O golpe de Alan Sokal no pós-modernismo

Um dos meios de combate mais eficientes ao pós-modernismo que já vi foi dado pelo físico Alan Sokal.

Desde o advento dos pós-modernismo como ativismo social (conhecido na sigla inglesa SJW), os pós-modernos vem se infiltrando nos mais variados meios culturais: quadrinhos, cinema, séries, jornais, mídias sociais, etc. Isso é bem sabido. Ocorre que a ciência (um dos pilares da cultura ocidental) também não foi perdoada por eles. Na década de 90 surgiu no EUA uma revista pseudo-científica, Social Text, que começou a publicar artigos de cunho pós-moderno, defendendo teses do construtivismo social para reformular a epistemologia tradicional das ciências naturais na base da crítica à razão.

Eis então que Sokal, em 1996, submeteu o artigo “Transgressing the boundaries: Toward a transformative hermeneutics of quantum gravity” para essa revista. Sim, o nome é ridículo, mas essa era a intenção. Após pesquisar com afinco a lista de todas as falácias de lógica que os gregos antigos reuniram, o físico empregou-as uma a uma combinando-as com um bando de palavras nonsense desconexas, vários termos científicos aleatórios e citando inúmeras autoridades da bibliografia justiceira – a parte dedicada às referências bibliográficas e notas de rodapé ocupa mais de dois terços do “artigo”! O resultado foi um aglomerado louco de frases sem sentido, argumentos nonsequitur, ad hominens grotescos e apelos emocionais: uma verdadeira peça de humor, misturando conceitos de relatividade geral e física quântica com afirmações absurdas de hermenêutica, pós-estruturalismo e de militância pós-moderna.

O resultado? O artigo não só foi aceito como publicado acompanhado de loas dos editores à entrada da Física na era pós-moderna. Entusiastas SJW brindaram a publicação como uma das vitórias justiceira sobre o mainstream acadêmico capacitista, meritocrático, patriarcal e machista. Mas no final, quem riu por último, riu melhor.

Por Lacombi Lauss

Dia do matemático: uma homenagem a Évariste Galois

Hoje é dia internacional da matemática, e como sou um pesquisador na área e amante confesso dela, vou contar a história do cara me fez aderir à causa dos números.

Todos aqui aprenderam no ensino findamental a resolver equações polinomiais de primeiro grau (do tipo: ax +b = 0) e no ensino médio a resolver as de segundo grau (do tipo ax2 +bx +c = 0). Eu sempre fui curioso quanto as demais, e a curiosidade foi se aumentando na faculdade de física onde aprendemos técnicas para resolver equações diferenciais homogêneas a coeficientes constantes reduzindo-as a casos polinomiais (se não entendeu nada, apenas saiba que isso é importante para resolver a eq. da segunda lei de Newton quando a força varia polinomialmente com a posição, como é o caso da mola).

A pergunta então é: existiria uma fórmula para as demais? Em 1494, Frei Luca Pacioli estudou a de terceiro grau, devido ao invento de Guttemberg, o livro Summa de Aritimética e Geometria. E afirmou, sem provas, ser impossível haver uma regra para resolver x3+px=q. Ludovico Ferrarri (1522-1557), a partir de evidencias de outros matemáticos, foi o primeiro a mostrar que Pacioli estava errado e deu uma fórmula explícita para solução de x3+px=q. Depois, ele propôs a mudança x=y-a/3 em x3+ax2+bx+c=0, além de resolver 13 tipos de equações do terceiro grau, que hoje em dia são uma só. Pouco tempo depois Ferrari resolve a equação do quarto grau.

E as demais? Passaram-se mais de 300 anos e, apesar de esforços de grandes matemáticos, ninguém conseguiu achar uma fórmula geral para elas, sequer para a de quinto grau. Eis então que surge Evariste Galois (leia-se “galoá”). Francês de nascença, apaixonou-se pela matemática aos 13 anos de idade e aos dezessete anos, Galois expôs algumas de suas descobertas fundamentais num artigo sobre a teoria das equações e equações contínuas, que ele pediu a seu amigo Cauchy que apresentasse à Academie. Mas, ele perdeu o artigo. Assim ele passou a odiar os acadêmicos. Depois disso, ele teve um segundo fracasso na sua segunda tentativa de entrar na Polytechinique, aumentando sua amargura. Ainda neste ano, o seu pai viria a se suicidar sendo vítima de perseguição. Apesar dos golpes que sofrera, Galois entrou na École Normale e continuou sua pesquisa, submetendo uma memória no concurso para o prêmio de matemática da Académie. Fourier, o secretário da Académie, levou os artigos sobre Equações Algébricas para casa, morreu logo depois, e os artigos se perderam.

Com ódio da burocracia e enfrentando de todos os lados tirania e frustrações, ele aderiu à causa da revolução de 1830, tornando-se um radical. Lutou contra o governo e foi preso pelo heróico ato de se armar sem permissão do governo. Em 1832, envolvendo-se com uma mulher, e em nome de um código de honra, não pode evitar um duelo com outro homem apaixonado. Na noite anterior passou as horas rascunhando notas para a posteridade numa carta a seu amigo. Na manhã de 30 de maio encontrou seu adversário recebendo um tiro fatal. Socorrido por um camponês, morreu num hospital para onde foi levado, aos 20 anos de idade.

14 anos depois, seus trabalhos foram encontrados pelo grande matemático Liouville, e durante mais de 100 anos foram estudadas as suas consequências. Hoje esta teoria é fundamental na Álgebra e descobriu-se que Galois deu condições necessárias E suficientes sobre equações polinomiais a fim de determinar precisamente quando ela terá uma solução geral em forma algébrica fechada. Em particular, sua teoria implicava na existência de certas eqs de quinto grau onde é simplesmente impossível achar tal fórmula. De altíssima complexidade, a hoje chamada Teoria de Galois é considerada por nós matemáticos um dos avanços mais sublimes da história da Humanidade.

Por Lacombi Lauss

Interessa quem é Satoshi Nakamoto?

Há exatas 24 horas atrás de quando escrevo isto, reconhecidos complexos midiáticos internacionais, como a BBC e o Guardian, divulgaram a notícia de que Craig Wright tinha enviado provas técnicas e contundentes de que ele era o lendário Satoshi Nakamoto (SN), o criador da primeira cripto moeda virtual, o Bitcoin. Em poucos minutos e enquanto outras mídias ao longo do globo repercutiam com fervor a notícia, simples usuários da moeda, independentemente, desvendaram a farsa das provas de Craig, mostrando aquilo que os libertários já sabiam: a mídia não tem compromisso com a veracidade dos fatos. E, o que é mais importante, a internet é um sistema anti-autoridade, um deslumbre de algo verdadeiramente anárquico e descentralizado. Mas ainda há outra lição a ser tirada tirada desse episódio.

Esse interesse a respeito da identidade de SN pode ser apenas uma manifestação de curiosidade para descobrir aquele que fez uma das maiores e mais revolucionárias invenções de nosso século. Mas a verdade é que tal informação de fato não importa. A tarefa de averiguar sua identidade é, em si, um apelo à autoridade e, pensando melhor agora, essa insistência apenas me traz à mente velhas bandeiras avermelhadas. Identificar o criador só serve para alimentar a multidão de apelo à autoridade, como se SN fosse uma espécie de profeta infalível, ou que tem algo a dizer sobre o futuro do Bitcoin. Mais importante ainda, ela serve também para distrair as pessoas do fato de que o Bitcoin não é controlado por qualquer pessoa e não é um sistema de Recurso-a-Autoridade. Identidade e autoridade são ofuscações de um sistema cuja prova matemática não requer confiança em ninguém. Bitcoin é uma estrutura neutra de confiança que pode trazer capacitação financeira para bilhões de pessoas, que funciona, e funciona na exata medida em que não depende de nenhuma autoridade. Satoshi, antes de todos nós, compreendeu perfeitamente esse ponto e a prova disso foi ele ter saído de cenário delegando sua invenção a quem realmente interessa e a sustenta: seus usuários.

Por Lacombi Lauss