Pós-modernismo: a cultura da inveja

William Shakespeare, em sua obra Othello, descreveu a situação de ódio de Iago pelo personagem título, onde ele não podia esperar para derrotá-lo em confronto aberto. Como então ele poderia destruí-lo? A estratégia de Iago foi atacá-lo onde ele iria prejudica-lo através da paixão de Otelo por Desdêmona. Iago sugeriu indiretamente que ela estava dormindo fora, e assim começou a espalhar mentiras sutis e insinuações sobre sua fidelidade, até que finalmente conseguiu levantar uma dúvida na mente de Otelo sobre a coisa mais bonita de sua vida, e assim ele deixou a trabalho da dúvida operar um veneno lentamente letal. Eis o enredo típico daqueles que querer prejudicar alguém por puro ódio, mas não tem razão. Não há outra saída senão espalhar palavras sem nexo com a realidade, turvando-a em prol de seus sentimentos. Você quer ferir um homem que ama seus filhos e odeia pedófilos? Lance boatos ao ar e espalhe rumores de que ele gosta de pornografia infantil. Você quer ferir uma mulher que se orgulha de sua independência? Espalhe a palavra que ela se casou com o homem que ela ama porque ele é rico. Esse é também o método daqueles ressentidos que se perderam no caos ideológico após o completo fracasso das experiências socialistas no fim do século XX e assim renunciaram a razão. Mas não é só isso: os pós-modernos foram além e sistematizaram o método levando-o às últimas consequências com sua noção de desconstrução. A razão foi desconstruída, a verdade, e a ideia da correspondência do pensamento com a realidade foram, em seguida, colocadas à parte – “a razão”, escreve Foucault, “é a linguagem final da loucura”. Não havendo nada para guiar ou restringir nossos pensamentos e sentimentos, podemos dizer ou fazer tudo aquilo que nós sentimos, nos tornando verdadeiros escravos de nossos caprichos mais animalescos. O ressentimento opera nivelando por baixo todo significado e valor: se um texto pode significar qualquer coisa, então isso significa que ele não vale nada mais do que qualquer outra coisa – nenhum texto portanto é intrinsecamente bom. Essa tática pós-moderna de destruir valores e culturas é perfeitamente ilustrada por Marcel Duchamp em sua versão da Mona Lisa onde a ela foi acrescentado um bigode de desenho animado. Duchamp ainda chegou a declarar: aqui está uma realização magnífica que eu não posso esperar fazer igual, então, ao invés disso, vou desfigurá-la e transformá-la em uma piada. Robert Rauschenberg levou Duchamp a um passo adiante. Sentindo que ele estava em pé na sombra das realizações de Willem de Kooning, ele pediu uma de suas pinturas para, depois de apagada, pintá-la novamente. E então declarou: “eu não posso ser especial a menos que eu destrua a sua realização em primeiro lugar”. O ocidente não está apenas decadente, ele tem em seu seio um movimento irracional deliberado para destruí-lo sem nenhum derramamento de sangue. Como disse Nietzsche: “Quando alcançariam realmente o seu último, mais sutil, mais sublime triunfo da vingança? lndubitavelmente, quando lograssem introduzir na consciência dos felizes sua própria miséria, toda a miséria, de modo que estes um dia começassem a se envergonhar da sua felicidade, e dissessem talvez uns aos outros: ‘é uma vergonha ser feliz! existe muita miséria!'”

Por Lacombi Lauss

Sobre “1984” e a esquerda pós-moderna

Em 1949 George Orwell publicou a famosa distopia “1984”, um romance que descreve uma engrenagem totalitária de uma sociedade completamente dominada pelo estado, onde tudo é feito coletivamente, e todos são doutrinados, vigiados e dominados pelo forte aparato coercitivo do partido dominante, tudo bem no esquema old-left de poder. O livro é realmente impressionante pela sua similaridade com as já conhecidas táticas de controle mental dos socialistas antigos.

Orwell cumpriu com eficácia seu objetivo: foi capaz de analisar e prever diversas táticas de controle e poder da antiga esquerda bolchevique e também dos nacionais socialistas. O livro serve até hoje como remédio para esse tipo de coletivismo que inclusive – e felizmente – está em decadência em nossos tempos.

Contudo, eis que surge um outro problema: os socialistas se deram conta que não tinham razão e agora passam a fazer uma cruzada contra ela. Esse é o advento do pós-modernismo, condição sócio-cultural e estética prevalente no ocidente após a queda do Muro de Berlim (1989), o colapso da União Soviética e a crise das utopias de esquerda no final do século XX. Não podemos dar uma definição clara a essa novo fenômeno, pois, em verdade, a claridade não se encontra entre os seus principais atributos. Ele não apenas falha em praticar a claridade mas em ocasiões até a repudia abertamente. Predomina o relativismo total, onde as noções de que tudo é um “texto”, que o material básico de textos, sociedades e quase tudo é significado, que significados estão aí para serem descodificados ou “desconstruídos”, que a noção de realidade objectiva é suspeita – tudo isto parece ser parte da atmosfera, ou nevoeiro, no qual o pós-modernismo floresce. Tudo é significado e significado é tudo e a hermenêutica o seu profeta.

A esquerda pós-moderna (ou new-left) é ainda mais perversa e perigosa que a descrita por Orwell pois é dispersa, descentralizada e propositalmente vaga. Ninguém responde por ela e não se vê um “manifesto pós-moderno” instruindo e doutrinando uma turba de seguidores zumbificados. Também não há partidos políticos representando-os e organizando suas movimentações: suas converções se dão como uma ameba engole a outra que está ao seu lado. E eles detém ainda mais força anti-civilizatória que a old-left: são intolerantes, não respeitam opiniões divergentes, querem fiscalizar parceiros e sexo dos outros, negam a ciência, são estatistas, condenam o lucro e o consumo, nutrem ódio por pessoas diferentes deles, são contra a liberdade de expressão, legitimando força bruta contra discursos que não gostam, negam o racionalismo, querem obrigar terceiros a se comportar como eles, se ofendem facilmente e o mais importante, odeiam a civilização ocidental.

Se alguém se der o trabalho de escrever um novo “1984” em referência à new-left, não tenho dúvidas que será ainda mais aterrorizador, macabro, violento e assombrante que o original. Ou acabamos com os pós-modernos, ou a convivência em sociedade se tornará insuportável.

Por Lacombi Lauss

O pecado original da constituição americana

Tudo o que os colonos ingleses deveriam ter feito na recém fundada América era criar e respeitar propriedades privadas por homesteading e desenvolver redes privadas, voluntárias e cooperativas de produção de segurança e de administração da justiça. Ou seja, uma vez obtido êxito na secessão e na expulsão dos britânicos ocupantes, seria necessário para os colonos americanos apenas manter as existentes instituições autóctones da autodefesa e da rede privada descentralizada de proteção e de resolução de conflitos composta por agentes e estabelecimentos especializados cuidando da lei e da ordem. Ao invés disso, eles cometeram o pecado original da constituição. E qual foi o resultado? Em vez de um rei que considerava a América colonial como a sua propriedade privada e os colonizadores como os seus inquilinos, a constituição colocou zeladores temporários e intercambiáveis no comando do monopólio da justiça e da proteção do país. Esses zeladores não detêm a propriedade do país; porém, enquanto eles estiverem no cargo, eles podem fazer uso dele e dos seus residentes em favor de si próprios e dos seus protegidos. Como Hoppe mostrou, esse nefasto arcabouço institucional fez com que a exploração do monopólio seja menos calculada, mais imediatista e desperdiçadora. Além disso, em função de a constituição explicitamente conceder a “livre entrada” no governo – qualquer pessoa pode se tornar um membro do Congresso, um juiz do Supremo Tribunal ou o presidente –, foi diminuída a resistência contra as invasões de propriedade pelo estado; e, como resultado da “livre competição política”, toda a estrutura moral da sociedade foi distorcida, e mais e mais indivíduos maus ascenderam ao topo, já que a livre-competição para mentir e roubar tende a levar ao poder as mais pessoas mais interesseiras, embusteiras, falsas, desvirtuosas, improdutivas, impostoras e imbecis das sociedade. Hoje esse processo tomou proporções ciclópticas e está essencialmente desenfreado, rumando ao colapso total. Trump e Hillary são apenas mais dois atores nesse teatro malígno que a classe política promove para roubar ainda mais e expandir seus poderes, promovendo a guerra e a insegurança.

Por Lacombi Lauss